

Penny Dreadful
04/07/2019 10:00
A era Vitoriana na Inglaterra experimentou mudanças sociais que resultaram no aumento das taxas de alfabetização. Com a ascensão do capitalismo e industrialização, as pessoas começaram a gastar mais dinheiro em entretenimento, contribuindo para a popularização do romance.
Essas mudanças criaram tanto um mercado para a literatura popular barata, quando a capacidade de circular em larga escala. Os primeiros seriados baratos forma publicados na década de 1830, a fim de atender essa demanda. Os folhetins tinham preços acessíveis para toda a classe trabalhadora e eram bem mais baratos que os romances de autores como Charles Dickens, que custavam um Xelim, ou seja, doze centavos por folhetim.
Em uma tradução livre, Penny Dreadful significa algo como "centavo de terror" e eram publicações de ficção e terror que eram vendidas na Inglaterra no século XIV, pelo valor de um centavo (Penny).
Penny Dreadful eram revistas publicadas de forma semanal ou quinzenal que apresentavam histórias de ficção heróicas mais violentas na Era Vitoriana.
Tais histórias eram contadas de forma simples para que, as pessoas que não tinham tanto dinheiro, pudessem tem acesso à literatura. Alguns desses contos eram bem sensacionalistas, com foco nas façanhas de detetives, criminosos ou entidades sobrenaturais. Alguns chegaram a falar sobre o famoso Jack Estripador (tem post sobre a história do Jack e post sobre a HQ Do Inferno!)
Embora o termo tenha sido originalmente usado em referência a um tipo específico de literatura que circulava na Inglaterra Vitoriana, o temo acabou abrangendo uma variedade de publicações que apresentavam ficção sensacionalista barata. Os Penny Dreadful eram impressos em papel barato de polpa de madeira e eram destinados a jovens trabalhadores.
As histórias eram publicadas em sequencia e, não era raro que as pessoas da classe trabalhadora formassem clubes para compartilhar o custo, trocando as publicações entre si, mas também haviam as pessoas que compravam os livretos e os alugavam.
O primeiro Penny Dreadful foi publicado em 1836, sob o título "Lives of the Most Notorious Highwaymen, Footpads", ou algo como "Vidas dos mais notórios salteadores de estradas". Entre os anos de 1830 e 1860, o gênero de literatura de um centavo já contava com mais de 100 editoras, além de revistas que acabaram entrando na moda desse tipo de publicação.
Os autores tinham, pelo menos, dez histórias diferentes em circulação e, não é nenhuma surpresa de que era bem mais rentável utilizar uma fonte staccato para escrever, ou seja, aquelas letras bem rebuscadas.
As ilustrações também deveriam ser a mais sensacionalista possível, ou seja, a que tinha mais sangue.
Em geral, as histórias constantes nos Penny Dreadful eram baseadas em pessoas reais ou ainda, em contos góticos. As primeiras histórias foram baseadas em salteadores de estradas, os quais se fixaram como protagonistas principais. "Black Bess or the Knight of The Road" foi uma série que contou a história real do salteador Dick Turpin e perdurou por 254 episódios.
Dessa forma, se as aventuras desse salteador faziam os exemplares venderem muito, logo os salteadores de estradas acabaram se tornando histórias previsíveis demais e acabaram dando lugar para as histórias mais, digamos, medonhas.
No final do século XVIII, voltou à tona as histórias com narrativas com bruxas, personagens que tinham interesse em venenos, homens mascarados, crianças roubadas, homicidas e outros personagens comuns ao terror.
Nessa onda de terror, um dos Penny mais famoso foi o "The Mysteries of London", o qual foi baseado em um livro francês escrito por G W M Reynolds. A primeira publicação foi em 1844., ficando em circulação por doze anos, onde conta a história da vida miserável dos menos afortunados de Londres, com direito a serial killers, muito terror e quase nenhum herói para salvar o dia, algo comum nos contos de Penny Dreadful.
Outra história de muito sucesso foi a "The String of Pearls", publicada em 1846, onde se apresentou, pela primeira vez, o barbeiro demoníaco da Rua Fleet, o famoso Sweeney Todd, que já rendeu um filme dirigido pelo Tim Burton (um dos meus filmes favoritos!).
Fato curioso: Um antigo Ministro da Polícia de Paris, que serviu entre os anos de 1799 e 1815, possuía registros sobre um barbeiro que fazia torta de suas vítimas e as vendia para consumo humano. Será que Sweeney Todd foi real????
Outro conto famoso foi "Varney The Vampire" (1845-1847). Varney é o conto de vampiro do Sir Francis Varney e foi a primeira história a se referir a dentes afiados para um vampiro!
A popularidade desse tipo de literatura começou a ser desafiada na década de 1890, com o surgimento de uma literatura concorrente, como os periódicos publicados por Alfred Harmsworth. Com o preço de um centavo, as histórias de Harmsworth eram mais atraentes e, pelo menos inicialmente, mais respeitáveis que a concorrência.
No início, essas publicações contavam histórias supostamente baseados em experiências verdadeiras, mas não demorou muito para que esses artigos começassem a usar o mesmo tipo de material que as publicações de Penny Dreadful.
Dois personagens populares que saíram das páginas do Penny Dreadful foram Jack Harkaway, na história "The Boys in England" (1871) e Sexton Blake, que começou no Half-Penny Marvel em 1893.
Na época da Primeira Guerra, as histórias como o Union Jack começaram a dominar o mercado britânico. No ano de 1918, o preço das histórias do Union Jack subiram para um "preço de guerra", e esse preço continuou bem depois da Primeira Guerra.
No ano de 1904, a Union Jack tornou-se o próprio papel de "Sexton Blake", e ele apareceu em todas as edições posteriores, até a extinção do jornal em 1933.
Com o passar dos anos, os Penny Dreadful evoluíram para as revistas em quadrinhos britânicas e, devido à produção barata, à percepção da falta de valor e a riscos como os tempos de guerras, os Penny Dreadfuls originais são muito raros hoje em dia.
E, para quem gosta de séries, tem a famosa série Penny Dreadful (2014-2016). A série é de terror e fantasia, criada por John Logan e produzida por ele e por Sam Mendes. A série reúne as origens de vários personagens famosos da literatura de terror como Frankenstein, Van Helsing e Dorian Gray, além de trazer personagens de lendas urbanas e seres místicos, como lobisomens e bruxas, que juntos, espalham o terror pela Londres Vitoriana.
O roteiro da série é ótimo e o desenvolvimento de seus personagens com um toque sombrio é incrível, uma vez que, apesar de serem conhecidos, a adaptação é inovadora.
O destaque da série vai para a atriz Eva Green, que consegue roubar a cena no seriado. Seu personagem é cheia de perturbações e acaba não sendo aquelas protagonistas chatas e apáticas, muito pelo contrário! Dá vontade de estudar o que se passa naquela cabeça conturbada.
Gostou do post? Compartilhe e nos siga nas redes sociais Facebook Twitter Instagram e se inscreva no nosso canal no Youtube!!
Por Juliana Hembecker Hubert