As Batalhas da I Guerra em Peaky Blinders

As Batalhas da I Guerra em Peaky Blinders

19/11/2019 10:00

A série Peaky Blinders tem um tema consistente que está presente em todas as temporadas: a devastação causada pela sociedade britânica após a Primeira Guerra Mundial. Também se pode destacar a mudança da sociedade na época, algo bem explorado na série.

Na série, Tommy lutou em Verdun, Somme e na Batalha de Mons. Arthur estava em Verdun e Somme. Já o irmão mais novo, John, era da cavalaria como soldado Warwickshire Yeomanry.

Hoje vamos destacar alguns pontos da série que remetem à batalhas travadas pelos irmãos Shelby e reações decorrentes da Grande Guerra.

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O personagem principal, Thomas Shelby, lutou na Batalha de Somme, a mesma batalha em que Tolkien lutou. Somme, que foi travada no norte da França, foi uma das batalhas mais sangrentas, onde mais de três milhões de homens lutaram, sendo que, cerca de um milhão acabaram mortos ou feridos. Os objetivos da batalha era de aliviar o exército francês que lutava em Verdun e enfraquecer o exército alemão. No entanto, os Aliados não foram capazes de romper as linhas alemãs. 

À medida que os soldados britânicos avançavam, eles foram sendo mortos por metralhadoras e fuzis. Nessa investida foram mortos quase 20 mil soldados britânicos. Isso que era somente o primeiro dia de batalha (01 de julho de 1916).

Após o primeiro dia, onde capturaram três quilômetros quadrados de território, os britânicos tentaram pressionar seu avanço. Durante um período de duas semanas, os britânicos fizeram uma série de pequenos ataques à linha alemã, em preparação para outro ataque em larga escala. Em 4 de julho, soldados britânicos se envolveram em sangrentos combates corpo a corpo. O progresso foi lento e os britânicos sofreram outras 25.000 baixas. Os alemães estavam sob crescente pressão e foram forçados a remanejar armas e homens de Verdun para reforçar suas linhas.

No mês de agosto, os alemães já tinham sofrido grande perda e acreditavam que a batalha estava perdida, pois estavam perdendo terreno em Somme e em Verdun. Em 15 de setembro os primeiros tanques foram usados na batalha de Somme, era o Mark I. Dois dias depois, os alemães revidaram o ataque com aviões.

Com o inverno se aproximando, a luta estava suspensa. Haig considerou que os soldados haviam feito o suficiente e resolveu retomar a ofensiva em fevereiro. Em 141 dias, os britânicos avançaram apenas sete quilômetros e não conseguiram quebrar a defesa alemã. Em março de 1917, os alemães fizeram um retiro estratégico para a linha Hindenburg, em vez de enfrentar a retomada da Batalha do Somme.

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A Batalha de Verdun, por sua vez, foi a mais longa e também sangrenta, assim como em Somme. Ela foi travada de fevereiro a dezembro de 1916 e terminou com 160 mil mortos. Essa foi uma Batalha que colocou os exércitos frente a frente para lutar nas colinas ao norte de Verdun, no nordeste da França.

Algumas curiosidades sobre Verdun é que durante séculos teve um papel importante na defesa devido à posição estratégica junto ao rio Meuse. No século V, Átila, o Huno já havia fracassado no cerco de Verdun.

O centro da cidade de Verdun era a cidadela construída por Vauban, um arquiteto militar, no século XVII. No final do século XIX, foram também construídas instalações debaixo do solo para servirem de aquartelamento das tropas dentro da cidade. A cerca de 8 km dos muros da cidade de Verdun existia um anel circular composto por 18 fortificações subterrâneas, sendo que muitas delas com torres de artilharia equipadas com canhões.

Voltando à Batalha, foram 300 dias, onde franceses e alemães se enfrentaram, resultando em uma carnificina sem sentido estratégico e nem vencedores reais, uma vez que a meta do general alemão Von Falkenhayn com essa batalha não era nem um avanço nem um cerco, mas literalmente esgotar o sangue dos franceses. Já para os franceses,  Verdun não podia, sob hipótese alguma, cair nas mãos do inimigo.

Em Verdun, calcula-se que, em menos de 30 quilômetros quadrados, foram disparados 10 milhões de tiros, com um peso total de 1,35 milhão de toneladas de aço, onde o estrondo deixou muitos soldados surdos. O efeito nos soldados em batalha era devastador. Muitos soldados não chegaram a ver o inimigo, a não ser os seus projéteis de artilharia. Muitos homens comparavam a sua experiência a ser condenados ao inferno. A chuva e a constante destruição dos campos, transformou o barro numa área cheia de lama cheia de cadáveres e pedaços de corpos. Em algumas zonas, viam-se mais corpos e ossos no terreno do que a própria terra ou vegetação. As crateras provocadas pelas bombas ficavam cheias de lodo líquido, e eram tão escorregadias que se alguém lá caísse, ou lá se resguardasse, podia morrer afogado. As florestas ficaram reduzidas a pilhas de madeira devido aos constantes bombardeamentos e, em alguns casos, chegaram mesmo a desaparecer.

Em meio ao forte bombardeio, um grupo de soldados franceses entrincheirados recebeu ordem de atacar, posicionando-se em linha, prontos para sair. Projéteis da artilharia inimiga começaram a cair sobre eles, derrubando as paredes da trincheira e enterrando-os vivos. 

Verdun transformou-se num polo de extrema concentração de violência em espaço reduzidíssimo. As substâncias de combate empregadas deixaram a área contaminada por décadas, com certos trechos declarados zone rouge.

Até hoje, cerca de 100 km2, algo como o tamanho de Paris, ainda é proibida a entrada de pessoas e o uso da terra para plantações, devido à uma quantidade enorme de restos humanos e munições químicas, que ainda precisam ser recuperadas dos campos de batalhas. A Zone Rouge se estende de Nancy até Verdun e para Lille, com várias zonas não contíguas tão cheias de granadas não detonadas, sendo muitas delas granadas de gás, granadas, munições e restos humanos e animais que era simplesmente perigoso demais para entrar.

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Foi na Batalha de Verdun que a frase do general Robert Nivelle se popularizou. A famosa frase “shall not pass”, foi registrada na Ordem do Dia.

O assalto final foi iniciado em 1º de junho por cerca de 10 mil soldados que ocuparam a parte superior da fortaleza. Diante da resistência dos franceses nas casamatas subterrâneas, os alemães tentaram avançar, descarregando os lança-chamas em cada abertura.

O tenente-coronel Raynal soltou então seu último pombo-correio pedindo ajuda. O pássaro, intoxicado pelos gases, voltou à gaiola, mas numa segunda tentativa, voou até o comando em Verdun.

Na série, há menção que Tommy também estava na Batalha de Mons, a batalha que travou o último dia da I Guerra, onde as forças aliadascapturaram a cidade belga de Mons, libertando a cidade que estava sob ocupação alemã desde 1914.

Nos primeiros dias da guerra, as forças britânicas haviam resistido ferozmente a Mons, em um esforço para retardar o movimento alemão em direção a Paris. Depois de expulsar os britânicos, os alemães ocuparam a cidade por quatro anos. Mons era um centro regional de mineração de carvão e seus recursos foram utilizados durante a guerra para alimentar os esforços de guerra da Alemanha.

As baixas gerais na Batalha de Mons foram pequenas, em comparação com outros combates da guerra: 280 homens mortos, feridos ou desaparecidos durante os últimos dois dias de operações.

Curiosidade desta Batalha é que um soldado foi atingido por um atirado de elite próximo a Mons, e acabou falecendo dois minutos antes que o armistício entrasse em vigor.

John Shelby era soldado do Warwickshire Yeomanry. Esse Regimento de Cavalaria voluntário do Exército Britânico, foi criado pela primeira vez em 1794, para defender o Reino Unido contra a invasão pelos franceses durante as Guerras Napoleônicas. 

Durante a Primeira Guerra Mundial, o Regimento se mobilizou em agosto de 1914, mas permaneceu na Inglaterra até 1915, quando partiram para o Egito com a 2ª Divisão Montada.

Outra coisa que a série deixa bem claro é o trauma da Guerra, que sempre foram exploradas nos protagonistas e nos demais sobreviventes das batalhas.

 Já no primeiro episódio tem o Danny, amigo de Tommy que tem episódios de insanidade causados pelo Shell Shock.

Shell shock foi um termo muito utilizado durante a I Guerra Mundial para descrever o estresse pós traumático da guerra. Diferente de tudo que já se tinha visto, o mundo se deparou com uma guerra diferente. Os soldados sofriam de forma intensa devido ao bombardeiro incessante, as granadas atiradas nas trincheiras e as batalhas produziram uma série de efeitos em alguns soldados. Sua origem ocorreu nos primeiros estágios da Guerra, onde os soldados da Força Expedicionária Britânica começaram a relatar que sentiam amnésias, dores de cabeça, tontura, tremores após algum combate. Sendo interpretado como um  dano físico ou psicológico ou por simplesmente por uma falha moral, tal termo entrou em uso para refletir uma ligação entre os sintomas e os efeitos das explosões. Tal termo foi usado pela primeira vez pelo médico Charles Myers, em 1917.

No início da Guerra, acreditava-se que o shell shock era o resultado de uma lesão física dos nervos, ou seja, o resultado de ser enterrado vivo ou de estar exposto a um bombardeio intenso, poderiam desencadear tal trauma. 

Na Batalha de Somme, cerca de 40% dos soldados ficaram no estado de choque. Em virtude disso, na Batalha de Passchendaele, de 1917, o Exército Britânico desenvolveu alguns métodos para que fosse reduzidos os traumas de guerra, como dar alguns dias de descanso para o soldado que começasse a apresentar algum dos sintomas.

Por fim, a série destaca que Tommy Shelby era um tunelista.  Durante a I Guerra, o exército britânico criou a 179ª Companhia de Túneis, onde o protagonista estava alistado.

As unidades de tunelamento estavam ocupadas em mineração ofensiva e defensiva, envolvendo a colocação e manutenção de minas sob as linhas inimigas, bem como outros trabalhos subterrâneos, como a construção de abrigos subterrâneos para acomodação de tropas, escavação de trincheiras de cabos e câmaras subterrâneas para sinais e serviços médico.

Os tunelistas ficaram conhecidos por disparar a mina de Lochnagar durante a Batalha de Somme. Essa mina fazia parte te de uma série de 19 minas que foram colocadas sob as linhas alemãs na seção britânica da frente de Somme para ajudar no início da batalha.

Quando foi detonada a mina, a infantaria avançou em direção à linha de frente inimiga, na esperança de tirar vantagem da confusão que se seguiu à explosão de uma mina subterrânea. 

Pode levar até um ano para cavar um túnel e colocar uma mina. Além de cavar seus próprios túneis, os mineiros precisavam escutar os tunnellers inimigos. Em algumas ocasiões, os mineiros cavaram acidentalmente o túnel do lado oposto e houve uma luta no subsolo. Quando o túnel do inimigo era encontrado, era geralmente destruído colocando uma carga explosiva dentro.

Fontes: Deutsche welle, BBC, forces war

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 Por Juliana Hembecker Hubert