As Bruxas da Noite - Die Nachthexen

As Bruxas da Noite - Die Nachthexen

15/06/2018 10:00

Bruxas da Noite foi um apelido dado pelos alemães para as mulheres aviadoras do 46º Regimento de Aviação de Bombardeiros Noturnos da Guarda Taman, da Força Aérea Soviética. 

Com a quebra do Tratado Molotov-Ribbentrop, que, em regras gerais, trazia que a Alemanha e a URSS não entrariam em guerra nos 10 anos seguintes, assinado em 23 de agosto de 1939, os soviéticos ficaram perplexos com a invasão do exército alemão e com a velocidade com que as tropas avançavam.

Com as tropas alemãs a apenas 35 km de Moscou, com Leningrado sitiado e cerca de três milhões de soviéticos prisioneiros, Stalin decidiu chamar Marina Raskova, uma famosa aviadora, para formar um regimento feminino de pilotos para bombardear o exército alemão e, então, se formou o 588º Regimento de Bombardeio Noturno, formado por 263 mulheres soviéticas. 

No dia 8 de outubro de 41, a Ordem 0099 especificou que seriam criadas três esquadrões compostos inteiramente por mulheres, quais sejam, 586º Regimento (caças Yak-1), 587º Regimento (bombardeiros de mergulho bimotor) e o famoso 588º Regimento (bombardeiros noturnos), sendo que, somente o 588º permaneceu exclusivamente feminino durante toda a Guerra. 

 
O 586º Regimento teve que empregar mecânicos, pois nenhuma mulher havia recebido instruções/formação de como trabalhar em aviões Yakovlev antes da Guerra. O 587º Regimento foi originalmente comandado por Marina Raskova, mas depois de sua morte, o Major Valentin Markov a substituiu. Ademais, nos bombardeiros Petlyakov Pe-2 também requeriam uma pessoa com altura suficiente para operar a metralhadora traseira superior, mas como não haviam mulheres altas o suficiente para tal função, alguns homens se uniram ao Regimento como operador de rádio e artilheiro de cauda. 
 
Ademais, vale a pena falar um pouco mais de Marina Mikhailovna Raskova. Em 1931, Marina começou a trabalhar no Laboratório de Aero Navegação da Academia da Força Aérea como projetista e, em 1033 foi a primeira mulher a se tornar navegadora na Força Aérea Soviética, sendo que, um ano depois, também foi pioneira em ensinar na Academia Aérea Zhukovskii. Marina se tornou uma aviadora famosa e estabeleceu um número de recordes de longa distância, sendo que seu maior vôo recorde foi o do Rodina ("pátria" em Russo), onde, com um Ant-37 - um bombardeiro DB-2 de longo alcance convertido, voou durante 26 horas e 29 minutos, através de uma distância total de 6.450 km. Durante a II Guerra, Marina comandou o 586º Regimento até sua morte, em um acidente de vôo, no dia 4 de janeiro de 43, quando seu avião caiu ao tentar fazer um pouso forçado na margem do Volga. Suas cinzas foram enterradas na Muralha do Kremlin, ao lado de outra piloto militar, Polina Denisovna Osipenko.

 

Em 1942, o 588º Regimento iniciou suas operações na Ucrânia. As integrantes tinham, em sua maioria, cerca de 20 anos e, após poucos meses de treinamento em Engels (cidade próxima de Stalingrado), elas decolaram para sua primeira missão, no dia 8 de junho de 42. 

Os aviões utilizados pelas "Bruxas da Noite" não eram de última geração, longe disso! Eram aviões velhos biplanos PO-2 adaptados para o front. Os aviões PO-2 eram construídos em madeira de pinho e madeira compensada com uniões em aço leve e revestimento em tecido em formas simples e retilíneas, com ambos os planos das asas. Eram usados na agricultura para pulverização de campos, com trem de aterragem de rodado duplo e capacidade para 250 kg de produtos químicos. Em 41 as aeronaves foram convertidas para desempenhar funções de apoio próximo e ataque ao solo, armadas com metralhadoras de 7,62 mm ShKAS, montada em um anel sobre o habitáculo traseiro e suportes sob as asas para 120 kg de bombas ou para quatro foguetes RS-82. 

PO-2

 

Em setembro de 42, Valerya Khomiakova abateu uma aeronave alemã JU-99, se tornando a primeira piloto soviética a destruir um avião inimigo à noite e, ao longo dos meses seguintes, várias outras pilotos conseguiram obter excelentes feitos. 

Valerya Khomiakova

Em virtude do sucesso em suas missões, o 588º Regimento começou a receber tarefas militares mais arriscadas, muitas vezes operações suicidas. 

As Bruxas da Noite sempre voavam em grupo de três aviões e, ao se aproximar dos alvos, elas desligavam os motores e sobrevoavam a área, planando em silêncio. Dois aviões atraiam a atenção dos holofotes ligando os motores e, se separavam de forma repentina, um para cada lado. Com os holofotes e as baterias anti aéreas preocupados procurando os dois aviões, vinha um terceiro e lançava suas bombas sobre o alvo. Os três aviões trocavam de posições até todas as bombas serem lançadas. 

Como os aviões, conforme descrito acima, eram de baixa capacidade, não eram possível carregar mais de duas bombas por vez e, por isso, as pilotos precisavam fazer vários ataques por noite, entre 15 e 18 missões. 

 E, mesmo com essas limitações, as pilotos realizaram mais de 30.000 missões e lançaram mais de 23.000 toneladas de bombas nos alemães.

Vale destacar que as aviadoras pilotavam seus aviões sem para-quedas, pois estes voavam muito próximo ao solo, tornando-se o para-quedas ineficiente. Outra característica era que o biplano tinham velocidade menor de qualquer aeronave militar alemã - mal chegavam a 150km/h- mas essa característica, tornavam as pilotos mais eficientes, uma vez que os biplanos eram mais fáceis de manobrar e fazerem uma torção, tornando-se mais difícil de serem "caçadas".

 Os pilotos alemães tiveram tanto trabalho para combater as pilotos soviéticas que foram criadas algumas superstições e boatos sobre elas. O próprio nome "Die Nachthexen"- Bruxas da noite- foi inspirado no som dos aviões desligados, que, de acordo com a imaginação dos alemães, sovam como vassouras de bruxas voando. Outra lenda dizia que as bruxas recebiam injeções com uma solução que as faziam enxergar no escuro como os felinos.

 Nas memórias de Hauptmann Johannes Steinhiff - piloto de caça alemão da Luftwaffe, com maior número de vitórias com 176 aviões inimigos abatidos - registrou que:

 

 

 Nós simplesmente não podíamos acreditar que os aviadores soviéticos que nos causaram o maior problema eram MULHERES (sic). Elas não temiam nada. Vinham noite após noite em seus lentos aviões e não nos deixavam em paz!

 

Cabe mencionar que o feito das Bruxas da Noite não param por aí! Como elas sempre tinham que estar perto da linha de combate, não haviam abrigos anti-aéreos, ou seja, elas viviam em pistas de pousos improvisadas e quase sempre passavam a noite toda dentro do cockpit e, quase sempre precisavam fazer reconhecimento durante o dia e manter os aviões abastecidos. Não foi uma tarefa fácil!

Maria Smirnova, em seu livro "A dance with death" escreve que nunca se acostumou com o medo e que era tomada pelo temor da morte, uma vez que, após os ataques, o estresse era tanto que as pilotos não conseguiam dormir e algumas tinham ataques de pânico, mas, mesmo assim, elas sabiam que isso era necessário para derrotar os invasores e recuperar seu país.

 

Comandantes do 588º Regimento

Yevdokia Bershanskaya e 

Serafima Amosova

 

Membros Notáveis: 

Raisa Aronova 

Vera Belik

Marina Chechneva

Rufina Gasheva

Polina Gelman

Antonina Khudyakova

Tatiana Makarova

Natalia Meklin

Yevdokia Nikulina

Yevdokia Nosal

Zoya Parfenova

Nadeshda Popova

Nina Raspopova

Olga Sanfirova

Maria Smirnova

Aleksandra Zhigulenko

Tatyana Sumarokova

Khiuaz Dospanova

 

A última sobrevivente das "Bruxas da Noite", Nadesha Popova, faleceu aos 91 anos de idade em 2013 e, em uma entrevista em 2010, ela disse: "Ás vezes eu olho para o céu escuro e lembro de quando era uma garota agarrada aos controles do meu bombardeiro e penso: "Nadesha, como você fez isso?".

 

 

Algumas referências culturais:

 - As "Bruxas da Noite" apareceram nos quadrinhos britânico Johnny Red. 

-Outro quadrinho em que as "Bruxas da Noite" aparecem é no "The Grand Duke" de Yann e Romain Hugault

-Jason Morningstar's Night Witches é um RPG de mesa

Músicas sobre as "Bruxas da Noite"

Hail of Bullets- Nachthexen

Sabaton - Night Witches

Wolf People Night Witches

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 Por Juliana Hembecker Hubert