As enfermeiras brasileiras na II Guerra Mundial

As enfermeiras brasileiras na II Guerra Mundial

28/01/2022 10:00

Quando a II Guerra teve início, era relativamente pequeno o número de enfermeiras, uma vez que nos hospitais, tal ofício era realizado por Irmãs de Caridade.

Na cidade do Rio de Janeiro havia a Escola de Alto Padrão Ana Nery, mas não tinha nenhuma relação com o exército.

Dessa forma, a Cruz Vermelha Brasileira fez um apelo às mulheres para que fizessem cursos de enfermagem à título emergencial, que eram os cursos de “Enfermeia Samaritana”, que tinham um ano de duração, ou o curso de “Voluntária Socorrista”.

No ano de 1940, a Cruz Vermelha também fez um apelo às mulheres paranaenses, solicitando que as professoras do primário fizessem os cursos.

As aulas foram ministradas no Hospital Militar Divisionário, uma vez que a Cruz Vermelha ainda não tinha seu próprio hospital no Estado.

As enfermeiras foram pioneiras dentro do Exército Brasileiro, uma vez que foram as primeiras a participarem dos quadros militares. Mas isso não foi bem visto pela sociedade, nem muito bem aceito dentro do Exército.

Cumpre destacar que a inclusão das enfermeiras foi realizada a pedido do comando do V Exército Americano, uma vez que elas poderiam atender melhor os soldados que tivessem baixas nos hospitais de campanha.

Sendo assim, em 15 de dezembro de 1943 foi aprovado o Regulamento para o Quadro de Enfermeiras da Reserva do Exército, sob Decreto nº 14.257, onde, em seu artigo único dizia:

 Fica aprovado o Regulamento que com êste baixa, assinado pelo General de Divisão Eurico Gaspar Dutra, Ministro de Estado da Guerra, para o Quadro de Enfermeiras da Reserva do Exército”.

Em abril de 1944, houve a nomeação das enfermeiras aprovadas, conforme o Boletim nº 360 de 21/04/44. Foram aprovadas 67 enfermeiras de vários Estados, na categoria 3º classe, ou seja, sem posto correspondente à Carreira Militar.

O embarque das enfermeiras para Nápoles, na Itália, foi feito de forma dividida  e por via aérea. Em julho de 1944 um pequeno grupo já estava estabelecido na Itália, quando o 1º Agrupamento da FEB chegou. 

Ao chegarem a Dakar, onde havia uma base americana, as enfermeiras eram recebidas pelos americanos e encaminhads até algumas barracas. Posteriormente, voaram para Casablanca, onde pernoitaram, para então, voarem para Nápoles.

Em Nápoles, as enfermeiras permaneceram alguns dias, aguardando a classificação nos Hospitais do V Exército Americano. A cidade já estava bastante bombardeada, foi então que as enfermeiras recém-chegadas tiveram o primeiro contato com a dura realidade da guerra.

No dia 15 de setembro de 44, vinte enfermeiras da FEB foram conduzidas para o US Army Hospital Shop “Ernest Hinds”, comandado pelo Master G.B. Yarsin, deixando o porto de Nápoles e conduzindo as enfermeiras até Livorno.

Ao chegarem a Livorno, as enfermeiras foram direcionadas para o Quartel da FEB, até o 7th Station Hospital, onde elas iriam trabalhar. No dia seguinte, as enfermeiras recém-chegadas foram distribuídas para cada uma com sua função.

Alguns quilômetros longe da cidade de Livorno foi instalado um Hospital à beira da praia. O local estava cercado de minas terrestres, onde havia várias placas limitando o terreno.

No andar térreo do hospital estavam instaladas as enfermarias, sendo que a maior parte dos pacientes era de pracinhas brasileiros. No andar superior havia a Grande Enfermaria dos Oficiais e uma pequena enfermaria para as enfermeiras brasileiras e americanas.

Poucos meses após a instalação do Hospital, este foi uma combinação de vários tipos de serviços prestados, além de ser um laboratório geral e odontológico.

Como regra, deve-se afirmar que o 7th Station Hospital recebeu os casos mais graves por estar próximo às infraestruturas portuárias e ferroviárias.  Como não havia outras instalações de laboratório nas proximidades, o 7th fez todo o tipo de trabalho de laboratório para outros hospitais, fornecendo serviços ao Provost Marshal e ao Quartermaster Graves Service Service. 

O 7th Station Hospital atendia por dia, em média de 600 a 700 feridos. No anexo, havia a seção brasileira do hospital, que era chefiada pelo Major Médico Dr. Sady C. Fischer.

A Cruz Vermelha dava assistência psicológia aos soldados baixados e também realizava a decoração do hospital em datas comemorativas, como Natal, Ano Novo e Ação de Graças. 

As enfermeiras trabalhavam 8 horas por dia em escalas, sendo que o plantão noturno era de 15 noites consecuticas e um dia de folga. Para as enfermeiras do plantão noturno, havia uma barraca mais isolada com uma placa escrita “Night Nurse”. A enfermeira Acássia do Paraná foi a primeira a fazer o plantão noturno.

O acampamento das enfermeiras ficava no terreno na frente do hospital, sob um bosque de eucaliptos, em um terreno minado, com várias placas escritas “off limits”. As barracas tinham capacidade para quatro pessoas, feitas de lona impermeável, com piso de madeira, luz elétrica, estufa e chaminé e as camas eram desmontáveis e de lona.

Porém, apesar do campo em torno do acampamento das enfermeiras ser considerado sem minas terrestres, houve um acidente, quando um italiano que cuidava desta área (plantando, removendo entulhos), acabou batendo com uma picareta em uma mina, que acabou explodindo e causou abalo em toda a área.

No final do ano de 1944, o 7th foi atingido por uma bomba, que contraria os acordos internacionais de não agressão. Nessa ocasião houve somente danos materiais, sem nenhuma vítima. Conforme conta a enfermeira Hilda Ribeiro em seu diário, era comum que aviões do inimigo sobrevoassem a região. Sendo assim, era feita uma cortina de fumaça para a defesa terrestre e para encobrir os objetivos.

Já no final da campanha, o V Exército, FAB e FEB estavam obtendo mais sucesso, e nos hospitais havia mais evacuações e menos soldados que estavam vindo do front para atendimento.

No final da Guerra, os pacientes do 7th foram evaucuados para Nápolis, e os médicos, enfermeiras, estavam seguindo seu destino. As enfermeiras brasileiras foram liberadas e já estavam com transporte  para Nápolis.

Em Nápolis elas ficaram hospedadas no Terminus Hotel e começaram a organizar a volta para o Brasil em aviões americanos.

Após uma longa viagem, ao chegarem no Brasil, as enfermeiras foram se apresentando e depois sendo desligadas do Exército. Receberam passagens de volta para suas cidades natais. As enfermeiras que tinham empregos voltaram para suas antigas funções, enquanto que outras voltaram para seus lares.

Em 1950, todas as enfermeiras brasileiras que participaram da FEB, foram nomeadas como 2º Tenente do Quadro de Enfermeiras da Reserva, vonforme o artigo 1º da Lei nº 1.209 de 25 de outubro de 1950.

Art. 1º São incluídas na Reserva do Exército, no pôsto de segundo-tenente, as enfermeiras que participaram das operações de guerra, dentro do setor de sua especialidade, junto à Fôrça Expedicionária Brasileira, excluídas as que embora hajam sido nela incorporadas, tenham permanecido no território nacional

Parágrafo único. As enfermeiras, que gozarem dos benefícios dêste artigo, terão direito à percepção dos vencimentos dos postos em que foram arvoradas, desde a data da mobilização até a sua de desmobilização.

Art. 2º A despesa, prevista no artigo anterior, correrá pelo Fundo de Indenização de Guerra e será oportunamente apurada.

Art. 3º São extensivos as enfermeiras da Fôrça Expedicionária Brasileira, no que lhes fôr aplicável, os dispositivos das leis de amparo e assistência aos ex-combatentes.

Art. 4º A presente Lei entrará em vigor na data da sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Em 1957, depois de grande luta das enfermeiras que haviam participado da FEB, puderam voltar à ativa no Exército brasileiro como convocadas.

Fonte: Acervo Museu do Expedicionário de Curitiba

Por Juliana Hembecker Hubert

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