Drácula nas trincheiras

Bela Lugosi foi um dos mais famosos atores a interpretar o lendário vampiro Drácula no cinema, durante a década de 30. Mas o que a maioria das pessoas não sabem, é que o horror retratado na tela não era nada comparado aos horrores que ele viu quando lutou na Primeira Guerra Mundial.

Lugosi passou vários de seus anos de formação lutando nas linhas de frente durante a Primeira Guerra Mundial. Sua experiência de guerra e as conseqüências caóticas do conflito na Hungria o levariam a um caminho que moldaria sua carreira.

Bela Lugosi em seu uniforme militar austro-húngaro

Em 1914, Lugosi tinha feito seu nome nos círculos artísticos, e com a súbita eclosão da Primeira Guerra Mundial, os atores acabaram sendo dispensados ​​do serviço militar.  

Ainda por razões que ainda desconhecidas, Lugosi se ofereceu para o exército austro-húngaro. Ele foi designado para a 43ª Infantaria Real Húngara, servindo como tenente de infantaria. A unidade foi enviada para a Frente Oriental, onde eles lutaram na Galícia contra as forças russas. 

Lugosi mostrou habilidade suficiente para entrar na patrulha de esqui. Sua unidade logo se viu envolvida nas brutais campanhas dos Cárpatos no inverno, onde os austro-húngaros perderam dois terços de um exército de 100.000 homens em menos de três semanas. Embora em grande parte esquecida, a luta que ocorreu no Cárpatos nevados é considerada por alguns historiadores a mais mortal de toda a guerra em qualquer frente. 

Lugosi não escapou ileso da luta. Ele sofreu tanto mentalmente quanto fisicamente. 

Há poucos relatos de Lugosi compartilhando seus pensamentos sobre a guerra. Como a maioria dos homens que viam os horrores da guerra, ele preferia manter seus pensamentos e sentimentos engarrafados.

Mas, uma das poucas vezes que ele falou sobre a guerra ocorreu em uma entrevista anos depois, quando ele relembrou:

“Houve um momento que nunca consegui esquecer. Nós estávamos protegendo uma floresta dos russos. Todos nós estávamos encolhidos sob enormes árvores, cada homem debaixo de uma árvore. Um jovem oficial incauto, saiu um pouco da cobertura e um projétil atingiu seu peito. Eu esqueci que os russos estavam atirando de sua linha com metralhadoras. Não um homem altruísta ... Corri para ele e dei-lhe os primeiros socorros. Voltei para a minha árvore e descobri que ela havia sido levada aos céus em pesados ​​pedaços de britagem. Eu fiquei histérico. Chorei lá no chão da floresta, como uma criança ... não por medo, nem mesmo por alívio ... pela gratidão em como Deus me pagou por ter aquele bom coração".

Lugosi foi ferido duas vezes, a primeira vez em luta perto Rohatin, na Galiza (Ucrânia hoje), e a segunda vez ocorreu nos Cárpatos. Essas feridas lhe trouxeram uma condecoração por bravura, mas também o colocaram fora de serviço. Pouco depois de ser liberado do hospital no início de 1916, Lugosi foi dispensando após 18 meses de serviço e voltou a se apresentar na Hungria. 

O Império Austro-Húngaro foi dissolvido em novembro de 1918, e a Hungria tornou-se uma república. Pela primeira vez em sua vida, Lugosi se envolveu na política. Ele ganhou um papel como um dos líderes do sindicato de teatros recém-criado em dezembro de 1918 e acabou adotando opiniões decididamente de esquerda, fazendo campanha para erradicar um sistema de antiguidade que tinha sido inclinado para a velha guarda teatral de Budapeste. 

O que se seguiu após a invasão da Hungria foi conhecido como o Terror Branco, um período em que esquerdistas, simpatizantes comunistas e liberais foram atacados e mortos por contra-revolucionários.

Exílio sendo a melhor escolha, Lugosi fugiu da Hungria com sua esposa, ambos escondidos em uma carga de feno, e foram para Viena e depois para Berlim.  Lugosi encontrou trabalho na crescente indústria cinematográfica alemã, mas em 1921, ele decidiu imigrar para os Estados Unidos, a fim de encontrar melhores oportunidades de carreira, onde chegou no auge em 1931 com o filme Drácula. O passado foi deixado e Lugosi raramente mencionou o que realmente aconteceu na Grande Guerra.

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 Por Juliana Hembecker Hubert