Franz Von Werra, aquele que não se deixa capturar

Franz Von Werra, aquele que não se deixa capturar

04/02/2022 10:00

Persistência e audácia: estas duas palavras definem com extrema precisão o caráter do Oberleutnant (1° tenente) Franz Von Werra: O único piloto alemão a ser capturado pelos britânicos que conseguiu retornar à Alemanha.

Nascido na Suíça, em 13 de julho de 1914, mas de origem alemã, Werra alistou-se na Luftwaffe em 1936 como piloto de caça e, em 1938, seria promovido a Tenente. Foi nomeado ajudante da equipe do II./JG3 em 1° de fevereiro de
1940 e participou da campanha francesa, tendo sua primeira vitória em 20 de maio do mesmo ano, quando abateu um Hurricane inglês perto de Arras.

Dois dias depois, o tenente viu-se em combate feroz após 3 bombardeiros franceses Breguet 690 sobrevoarem seu aeródromo. Werra derrubou dois deles, sendo um perto de Albert, sudoeste de Cambrai, após longos 20 minutos de
perseguição. Sua campanha francesa acabou com um saldo de 4 abates.



Em 28 de agosto de 1940, Franz ganhou notoriedade após retornar de uma missão na Inglaterra, pois alegava o abate de 9 Hurricanes sobre Kent, 5 delas registradas como vitórias terrestres (aviões abatidos quando estacionados ou em pista). Mesmo sem testemunhas do feito e com muitas dúvidas pairando, sua Vitória foi reconhecida e difundida pelos meios de propaganda alemães, tendo uma de suas fotos mais famosas registradas: o tenente acariciando seu filhote de Leão.

 

 


O dia 5 de setembro de 1940 seria o marco de largada para a jornada que lançaria Franz von Werra ao estrelato. Enquanto cumpria uma missão de escolta de bombardeiros, na região sul de Londres, a formação foi interceptada por Spitfires e seu BF-109 E-4 (W.Nr. 1480, "Black <") recebeu impactos de fogo amigo; ele ainda tentou retornar à casa sozinho, mas foi perseguido e forçado a realizar um pouso forçado nas proximidades de Marden.

Sendo capturado, após demorado interrogatório, onde foi tratado com certo luxo e conforto, o contrário daquilo que esperava, acabou sendo enviado para um campo de prisioneiros em Lake District, junto com outros pilotos. Lá, começou a elaborar o primeiro plano de fuga do local.  Utilizando-se da rota para os exercícios de marcha, realizado pelos prisioneiros, aproveitou o auxílio de camaradas e o descuido de guardas, durante o período de descanso da caminhada, para atravessar um muro e correr, encoberto por aquele, por um campo até a floresta. Sua falta foi notada pelos responsáveis na contagem dos cativos. Imediatamente destacamentos de polícia local e do exército foram postos em seu encalço, o qual durou 5 dias. O cansaço, a fome e o tempo de incessantes chuvas fizeram com que fosse recapturado.

Transferido de trem após o ato, o Camp 13, também chamado Hayes Conference Center, seria sua nova moradia. Enquanto aguardava a troca de comboio, ele pôde estudar, através de um mapa na estação ferroviária de Derby, as
estradas, ferrovias e mediações da região. Chegando, enfim, a Swanwick e sendo posto em uma sala individual, em The Garden House, como os demais prisioneiros. Não tardou para arquitetar um novo plano de escape. Junto com
mais 4 detentos, e contando com apoio dos demais, utilizaram um quarto desocupado, próximo à cerca dupla de arame, para cavar um túnel de fuga. A escavação e preparação duraram cerca de 4 semanas.

Na noite entre os dias 20 e 21 de dezembro de 1940, os 5 se arrastaram pelo túnel. Obviamente estando mal equipados e sem dinheiro, os 4 foram logo recapturados, apenas um deles chegou mais longe, sendo capturado após
roubar a bicicleta de um policial da aldeia próxima. Entretanto, Franz já estava decidido a prosseguir sozinho e seguiu para uma estação de trem.


Trajando um casaco de voo, porém de modelo já antiquado, comprado de outro prisioneiro, criou a história de que era um piloto holandês voluntário na RAF, Capitão Van Lott, pertencente a um esquadrão especial de bombardeiros sediado em Arbedeen (escolheu tal por ser uma base distante, o que teoricamente dificultaria contatos para confirmação da história) e que havia caído durante um teste de novo ponto de mira em seu Wellington.

Na estação, contanto a história citada, exigia um telefone para contactar a base de Hucknall(compartilhada entre a RAF e a Rolls Royce, a 16 km de distância) e pedir transporte. O balconista aceitou sua história, entretanto ligou primeiro para a polícia. Com a chegada desta, Werra foi questionado, respondendo com a justificativa de participar de um projeto sigiloso, que tripulações de bombardeiros não devem levar documentos pessoais em missão e a sua equipe estaria guardando o avião caído para impedir que equipamentos secretos ficassem desprotegidos. As autoridades acreditaram em sua história e se desculparam, alegando rigor de investigação por conta da fuga de prisioneiros alemães.

Momentos depois, o carro vindo de Hucknall chegou para levar "Van Lott"; a ligação da estação causou desconfiança no chefe da base, tendo este mandado seu motorista armado.

No caminho para a base, Werra insistiu diversas vezes para o chofer deixá-lo na torre de comando, alegando que um avião vindo de Arbedeen pousaria a qualquer momento para buscá-lo; seu plano, desde o princípio, era roubar um caça britânico e voar de volta à Alemanha; o motorista, no entanto, afirmou que estava cumprindo ordens explícitas de levar o "capitão" para o quartel general.

O oficial responsável por Hucknall, após ouvir a história de Franz, ficou desconfiado e disse que tentaria contato com Arbedeen para confirmação, o que fez Werra recorrer à medidas desesperadas: sob pretexto de ir ao banheiro, conseguiu escapar pela janela deste e chegou aos hangares da Rolls Royce, onde novos protótipos de Hurricanes estavam estacionados. Usando o pretexto de ter sido ordenado a buscar um novo modelo, "Van Lott" foi levado ao avião, porém, antes de ser instruído nos controles, foi obrigado, pelo mecânico, a ir encontrar-se com o gerente para assinar o livro de visitas e busca das aeronaves.

Com a assinatura dada, Franz foi instruído nos comandos do caça e pediu para fazer um teste de voou; ligando o motor, o qual não teve ignição por estar desconectado ao carrinho de partida. Enquanto o mecânico ia buscar a máquina, Werra sentiu algo duro a cutucar-lhe: o revólver do oficial da base. Pela primeira vez, Werra temeu por sua vida; não pelo revolver em sua cabeça, mas pelos pilotos poloneses que haviam na base, os quais carregavam imenso ódio pelos alemães. No entanto, Werra não recebeu agressões; recebeu uma refeição e foi enviado de volta para Swanwick, onde cumpriu algumas semanas de solitária pela fuga.

Após estas fugas, foi decidida a transferência de todos os prisioneiros de Swanwick para o Canadá. Assim sendo, o grupo foi levado para a Estação Butterley, de onde seguiria o trem para Glasgow e, de lá, o barco para o Canadá. Já em solo canadiano, a bordo do comboio que os levaria ao acampamento final, Franz e seus camaradas bolaram outra estratégia de escape.

Mesmo com o frio extremo, Werra conseguiu abrir uma das janelas do vagão(eram janelas duplas, justamente visando dificultar a fuga), para que a mais externa descongelasse com o aquecimento interno. Em determinado trecho, os camaradas de Franz criaram um fuzuê para distrair os guardas e dar a chance de escape para seu colega, a qual foi realizada, quando o alemão pulou a janela com o trem em movimento. Era 21 de janeiro de 1941.

O plano de Werra era cruzar o Rio São Lourenço, que cria a fronteira EUA - Canadá, sendo o primeiro, à época, ainda neutro em relação à guerra. Para realizar o plano, ele teve de caminhar bastante, e até pegar uma carona, para chegar ao rio. Durante a noite, começou a cruzá-lo a pé, aproveitando que estava congelado. Entretanto, uma parte do córrego não havia congelado, fazendo com que o piloto tivesse de voltar todo o caminho e roubasse um barco a remo, que estava em uma cabana desocupada na margem canadense, o qual teve de empurrar pela grande distância até a parte descongelada.


Quando conseguiu pôr o barco na água gélida (motivo que o impediu de nadar) e quando estava dentro dele, desmaiou pelo cansaço, acordando quando o barco bateu na margem. Saiu quase engatinhando de tanto frio e fadiga, caiu próximo de uma guarita de guarda de fronteira dos EUA, onde foi resgatado. Apresentou-se ao guarda como prisioneiro de guerra e pediu asilo aos estadunidenses.

Franz Von Werra ficou sob custódia do cônsul alemão nos EUA, que enfrentava diversas batalhas burocráticas com os canadenses, que exigiam a extradição do prisioneiro de guerra. Enquanto estava em solo estadunidense, enviou para a Alemanha, por meio do cônsul, valiosas informações acerca dos métodos de interrogatório da RAF, que divergiam bastante de técnicas brutas e violentas que eram esperadas pela Luftwaffe, e ensinadas aos recrutas. No mesmo período, teria negociado com uma editora alemã a publicação de suas memórias, que logo foram proibidas pelo governo alemão por, supostamente, poder conter sentimentos pró-britânicos.

Após um período, os canadenses começaram a usar uma técnica mais inteligente para conseguir a deportação de Werra: Ao invés de pedir por um prisioneiro de guerra, pediam pela guarda de um ladrão, visto que Franz havia roubado um barco para sua fuga. Receoso desta estratégia funcionar, o cônsul muniu Werra de dinheiro e suprimentos e o enviou para o México, disfarçado como camponês.

Após percorrer muitos países da América do Sul, Franz navegou à Espanha e, de lá, pegou um voou civil para a Alemanha, chegando em solo teutônico em 18 de abril de 1941. Recebido como herói, foi agraciado com a Cruz do
Cavaleiro da Cruz de ferro das mãos do próprio Hitler.

Posteriormente, em 1 de julho do mesmo ano, Franz Von Werra foi enviado para a Frente Oriental, onde foi nomeado Gruppenkommandeur do I./JG53. Neste teatro, ele conquistou 13 abates, incluindo seus 20° e 21° em 31 de julho. A partir de 7 de agosto, o I./JG53 começou a ser retirado da Rússia, de volta para a Alemanha, para descanso e reequipamento.

Ao final de setembro, sendo o Gruppe equipado com o novo BF-109 F-4, foi transferido para Katwijk, na Holanda. Em 25 de outubro de 1941, Franz decolou seu BF-109 F-4 (W.Nr. 7285) para um voou de treinamento onde, por conta de
problemas no motor, o avião mergulhou no mar, ao norte Vlissingen, e seu corpo, ou qualquer destroço da aeronave, jamais foi encontrado.

Franz VonWerra carregava em seu nome o peso de 21 vitórias aéreas e um ato de bravura e destreza que nenhum outro lograria realizar até o fim da guerra.

Seus atos foram imortalizados no livro e filme "The one that got away"(Traduzido no Brasil como "A águia fugitiva"). O longa metragem, de 1957:

 

Fontes: BBC, luftwaffe, omhso

Por Lucas de Carvalho

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