

Série Brasil na Guerra - parte 02
24/05/2018 10:00
Hoje vamos ver o segundo navio Brasileiro que foi atacado na Segunda Guerra. O navio Buarque foi construído entre os ano de 1918 e 1919 pela companhia American International Shipbuilding Corp.Hog. Island - Estados Unidos. O navio pesava 5.152 toneladas, tinha 16,5 de largura e era operado com turbina à vapor e navegava na velocidade de 11,5 á 13 nós (21 á 24 km/h).
Antes do Buarque navegar pelas águas brasileiras, ele foi um navio de carga americano, registrado no porto de Nova York nos anos 30. Ele foi transformado em um navio misto, ou seja, carregava carga e passeiros. No ano de 1939, foi adquirido pela Loide Brasileiro, junto com outros navios da frota, totalizando o valor de RS 3,5 milhões de dólares. Em 1940, o então Scanpenn é renomeado para Buarque¹, com o prefixo PUBH sendo registrado no porto de Rio de Janeiro.
Buarque¹ - O nome Buarque foi em homenagem ao engenheiro Dr. Manuel Buarque de Macedo que havia sido diretor da empresa Loide Brasileiro e ministro dos trasportes do Império do Brasil.
Logo que Buarque foi colocado em atividade no Brasil, ele começou a fazer a rota Rio de Janeiro -Nova York com escalas em Porto do Nordeste, e em La Guiara na Venezuela.
No dia 16 de Janeiro o Buarque, sob o comando do comandante João Joaquim de Moura, zarpou do Rio de Janeiro com 73 Tripulantes e 5 passageiros (capacidade para 82 pessoas) e com uma grande quantidade de café, algodão, cacau e mamona -Planta medicinal-.
Depois de zarpar do porto do Rio de Janeiro no dia 18/01/1942, o comandante Moura iniciou uma simulação de salvamento, onde participaram os tripulantes e passageiros.
No dia 01/02/1942, o Buarque zarpou do Estado do Pará (Escalas: Salvador, Maceió, Recife, Cabedelo, Natal, Fortaleza, São Luiz, Belém) e, depois de 6 dias de navegação, no dia 07/02/1942, Buarque chega em La Guaira, onde foram trazidos à bordo mais 13 passageiros, totalizando 91 passageiros.
Logo em seguida se deu início à viagem até o porto de Nova York. A rota sempre feita era em linha reta até o porto de NY. Contudo, o comandante, ciente dos tempos complicado de guerra que estava nos Estados Unidos, o comandante Moura resolveu navegar pelas costas do litoral, próximo à Virgínia. Tudo para tentar reduzir um ataque, pois nessa rota alternativa feita pelo comandante eram vistos constantemente aviões americanos fazendo patrulha.
15/02/1942. A navegação durante o dia havia sido tranquila.
19h30 - um avião sem identificação sobrevoa o navio, lançando sobre ele um sinalizador. O comandante estranha o fato e começa o trabalhado de prontidão da tripulação.
22h00 - O comandante Moura percebe a aproximação de um submarino alemão. O clima é de apreensão, pois logo o surgimento do submarino, ele começou a acompanhar o Buarque. O comandante sempre que navegava à noite, ia com todas as luzes acessas, as bandeiras do Brasil estavam nítidas e claras pintadas nos dois lados do navio. Até então, o Brasil não estava em guerra com a Alemanha e encontrava-se em uma posição neutra, sem falar que era notório que a embarcação era tripulada por civis e não militares.
00h45 - Segundo relatos, o mar era agitado e uma madrugada escura. Parte da tripulação e os passageiros estavam dormindo, quando foram arremessados de suas camas por uma enorme explosão. Todos que estavam saindo de suas cabines saiam desorientados pelo tamanho do impacto e do estrondo. Curto circuitos fizeram que o navio ficasse totalmente escuro. Sem luz e atordoados pelo choque, a desorientação, mesmo fora da cabine, era grande e muitos se chocavam contra os outros na correria
Posição: 54 milhas ao norte do cabo Hetleras, na costa do Norte, Estados Unidos, latitude 36º35' N e Longitude 75º20' W.
Local do 1ª Ataque. Porões 1 e 2
Walter Shivers -Engenheiro da Pan-America Airways- "Era uma situação aterradora. Estávamos todos aturdidos, sem saber para onde nos dirigir.Sobretudo pela falta de visão, o pânico aumentava a cada instante" (O Brasil na Mira de Hitler. Roberto Sander p.52)
Sem alternativas e com medo de um provável outro torpedeamento, o comandante Moura ordenou que o navio fosse abandonado.
O Buarque tinha 4 baleiros, uma lancha e 4 balsas e, mesmo com todo o sistema de segurança, o navio estava afundando, o que deixava a operação de evacuação muito perigosa. Conforme o navio ia afundando, se formava um redemoinho que puxava os botes para perto do navio afundando e, conforme se aproximava, eles se colidiam com o casco do navio de uma forma brusca o que colocava a segurança de todos em risco.
O comandante ordenou que fosse transmitido um pedido de ajuda pelo telegrafista e, em seguida, o sinal de evacuação foi seguida.
Os 4 baleiros foram colocados ao mar:
Baleiro 01 - Responsável Comandante Moura
Baleiro 02 - Responsável Imediato Pery Caldeira
Baleiro 03 - Responsável 1º Piloto Floriano Joaquim Gonçalves
Baleiro 04 - Responsável 2º Piloto Francisco de Paula Cabral
Apesar da desorientação inicial, todos os tripulantes e passageiros foram colocados nos botes em perfeita harmonia. O treino feito pelo comandante dois dias depois de terem zarpados foi crucial para a organização da evacuação. Após lutar contra os redemoinhos que se formavam pelo naufrágio do navio, os botes conseguiram se afastar e, quando estavam a cerca de 90 metros, foi efetuado o segundo torpedeamento.
Local do 2ª Ataque - Casa de máquinas
Shivers - " O roncar da água entrando pelo navio fazia-o gemer de uma maneira quase humana.Foi esse o ruído mais doloroso e mais tétrico que ouvi em toda a minha vida.Senti o sangue gelar-me nas veias" Correio da Manhã (19 de fevereiro de 1942).
16/02/1942 - Resgate
Madrugada após o torpedeamento - Como medida de segurança, os baleeiros estavam devidamente abastecidos de suprimentos emergencial (bolachas/biscoito, água e leite), o que foi suficiente para aguentar quase 6 horas à deriva no mar aberto.
O maior temor do comandante e de todos era que o submarino retornasse à superfície para fuzilá-los, mas todos se mantiveram firmes e, o que consta em relatos, tudo se deveu à uma criança de 6 anos de idade que estava em um dos botes com uma senhora, cuja a coragem do menino foi de motivar a todos, uma vez que, em nenhum momento o menino chorou ou se desesperou, o que serviu de estímulo a todos se manterem firmes.
Em virtude da escuridão, os botes se perderam um dos outros, o que causou diferença em seus salvamentos.
BOTES 02 E 04
07h00 - Por volta das sete horas da manhã, o baleiro 02 e 04 foram avistados por um avião americano que havia interceptado o pedido de SOS da embarcação. Após o avistamento, foi lançado um sinalizador próximo aos botes.
Período da Tarde- O USCG Calypso da Guarda Costeira dos Estados Unidos, foram resgatado 47 pessoas que foram desembarcados na manha de 17/02/1942 em Norfolk.
Navio Calypso 2008
BOTE 01
09h00 - Os tripulantes do bote 01, onde seu responsável era o próprio comandante Moura, foram avistado por dois aviões da Marinha norte-americana.
Jonh Dunn - Engenheiro da Panam " Remamos e vagamos até as nova da manha, quando vimos dois aviões da marinha norte-americana. Fizemos sinais e eles nos viram, retribuindo os nossos sinais. Vimos também um dos observadores tirando fotografia dos nossos escaler. mas os navios mandados em nosso socorro só apareceram na parte da tarde, mas sempre tivemos aviões voando sobre nós".
O resgate foi feito pelo USS Jacob Jones que resgatou 16 pessoas.
BOTE 03
Infelizmente, foi o bote que mais sofreu. Ele ficou perdido no mar por 57 horas sobre chuva e frio abaixo de 0, todos seus tripulantes estavam em estado crítico.
O salvamento foi feito pelo petroleiro americano Eagle de propriedade da Standard Oil.
Vítima: No momento do resgate do bote 03, soube-se que Manoel Rodrigues Gomes, de nacionalidade portuguesa, com 46 anos, teve um infarte no bote logo após o torpedeamento. Os tripulantes do navio tentaram ressuscitar-lo, mas sem sucesso.
Jornal Correio da Manhã em PDF
Conhecendo U - 432
O submarino Alemão U-432 pertencia a Kriegsmarine (Marinha de Guerra Alemã). Ela foi criada em em 1935 e durou até o fim da Segunda Guerra em 1945.
A Kriegsmarine era conhecida pelos seus submarinos (U-boot) e seus navios de guerra potentes. Os submarinos causaram grande estragos em frotas inglesas durante a primeira parte da guerra.
VIIC- é a classe de U-Boot alemão. Foram construídos 568 e eles foram extremamente importante na Guerra do Pacifico. Tinham mais 4 variações: VIIA, VIIB, VIIC/41 e VIIC/42.
O VIIC tinha um sonar que fez com que o seu casco fosse alongado. sem falar que foi melhorado mecanicamente. Pesava 769 toneladas e tinha o comprimento de 50,5 metros, velocidade na superfície de 33km e submerso de 14 km, chegava a profundidade máxima de 230 metros e podia ter de 42 a 52 tripulantes.

Armamento: Canhão no deck C35 88 mm/L45 com 220 tiros.
Antiaérea C30 20 mm, mas poderia ter variação
de submarino para submarino
Tinha 2 tubos de lançamento de torpedo.
Tinha capacidade para 14 torpedos.
26 minas TMA
O Unterseeboot ficou na ativa por 23 meses (1 ano e 11 meses) e, durante esse período, afundou e danificou 19 navios mercantes e 3 navios pesqueiros. Foram 8 patrulhas sob subordinação da 3ª Flotilha de Unterseeboot da Kriegsmarine.
O U-432 esteve sobre o comando do Capitão Heinz-Otto Schultze que comandou por 270 dias dos 296 dias em que o submarino esteve em ação.
O COMANDANTE
O Kapitanlieutnant Heiz-Otto Schultze nasceu em Kiel em 13 de Setembro de 1915 e morreu em 25 de novembro de 1943, com 28 anos. Ele comandou os submarinos U-4, U-141, U432 e U-849.
Otto era filho do então Almirante Otto Schultze que serviu a Kaiserliche Marine na Primeira Guerra. Heinz Otto entrou para a Marinha Alemã em abril de 1934 e foi transferido para a unidade de submarino em maio de 1937, foi oficial do U-31, foi comandante do submarino escola U-4 e U141 até março de 1941. De abril de 1941 a janeiro de 1943, foi comandante do U-432 onde ficou 270 dias direto no mar.
Logo após assumir o submarino de longo alcance, U-849 da Classe IXD e, na sua primeira missão, depois de 55 dias ao mar, foi abatido por um avião B-24 que partiu da base de Natal.
B-24
Base aérea de Natal (Bant)
CONDECORAÇÃO
2 DE OUTUBRO DE 1939 - CRUZ DE FERRO 2º CLASSE
12 DE DEZEMBRO DE 1939 - EMBLEMA DE GUERRA DOS U-BOOTS
23 DE SETEMBRO DE 1941 - CRUZ DE FERRO 1º CLASSE
9 DE JULHO 1942 CRUZ DE CAVALEIRO DA CRUZ DE FERRO
OPERAÇÃO PAUKENSCHLAG
A operação Paukenschlag foi aprovada pelo Führer e desempenhado pelo comandante Kalr Dönitz, que comandava as fotas de submarino. A operação foi estabelecida para afundar navios, mas nesse caso especifico, em 1942, os EUA haviam acabado de entrar em Guerra com o Eixo e, uma das táticas era evitar que matérias primas e mantimentos chegassem aos EUA. Sendo assim, o comandante Otto afundou o navio Brasileiro que, apesar de ser civil, levava em suas cargas matérias para um país que estava em guerra.
Nota: Em estudo para realizar esse post, pude fazer uma reflexão: de que, neste caso isolado, a intenção não era matar seus tripulantes, era realmente causar danos e evitar que os EUA recebessem suprimentos. Pude chegar à essa conclusão quando o comandante do submarino esperou pacientemente que todos os tripulantes fossem evacuados da embarcação. Em outras situações, o navio seria torpedado para que fosse à pique o mais rápido possível. Posso estar errado, foi só uma reflexão e vou respeitar o entendimento de cada leitor.
Das cargas que se encontravam no Buarque, o café era um dos mais importantes. O café brasileiro era muito apreciado. Os próprios militares americanos diziam que o café era o responsável pelo bom ânimo no front. Cada soldado consumia, durante o ano, a quantia de 20 quilos de café. Lembrando que, para passar um um café forte são necessários gramas, 20 quilos é um numero relativamente alto.
O café era tão importante que o presidente Getúlio Vargas presenteou as tropas Norte Americanas com 400 mil sacas de café. Com a atitude, o próprio presidente Roosevelt e o Secretário de Estado Cordell Hull mandaram cartas em agradecimento.
E, terminamos aqui essa nossa segunda parte da entrada do Brasil na Guerra! Espero que tenham gostado e, se gostaram nos ajude!
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Por Murilo Hubert Schenfeld