Torpedeamento do Arabutan – uma agressão covarde e traiçoeira
17/08/2020 10:00
Assim começa a reportagem do jornal “A Noite” do dia 10 de março de 1942.
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Três dias antes, o Brasil teve o seu quinto navio atacado por forças alemãs, desta vez pelo U-155, comandado pelo Capitão-Tenente Adolf Cornelius Piening, a aproximadamente 81 milhas do Cabo Hatteras, na Carolina do Norte.

Ainda segundo o jornal, com o ataque a Marinha Mercante Brasileira perdeu um dos seus bons cargueiros, senão o melhor, devido à classificação “100 A-1” no Loyds Register, que agrupava exclusivamente os navios de primeira linha, cargueiros ou de passageiros.
O cargueiro Arabutã foi construído em 1917 pela Union Iron Works, em São Francisco, California. Foi propriedade da empresa britânica Cunard SS Co, sob o nome de War Sword, até 1919 quando foi vendido à empresa italiana Navigazione Generale Italiana, com sede em Genova, onde foi rebatizado de “Caprera”.
Em 1º de junho de 1932 encalhou na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, sendo decretada sua perda total. Os destroços foram arrematados por Pedro Luis Correa & Castro. No ano seguinte, foram vendidos a Pedro Brando. Reconstruído nos estaleiros do empresário Henrique Lage, na Ilha do Viana (Rio de Janeiro), retornou à navegação em 1941, sob o nome Arabutã (Arabutan), operado pelo Lloyd Nacional.
Após os ataques aos navios Buarque e Olinda, que navegavam bem iluminados e bem identificados com bandeiras pintadas nos cascos e hasteada nos mastros, ficou decidido que toda a frota nacional navegaria sob as cores cinza e sem identificação.
Leia mais sobre o ataque ao navio Buarque AQUI
Leia mais sobre o ataque ao navio Olinda AQUI
Navegando sob essas condições, o Arabutã partiu do porto de Santos em 23 de janeiro de 1942 para a sua viagem inaugural, levando uma carga de algodão para os Estados unidos, sob o comando do Capitão Aníbal Alfredo do Prado e mais 50 tripulantes
O Navio pesava cerca de 7874 toneladas (algumas fontes falam em 7956), media 125 metros de comprimento, 17,1 metros de largura, calado de 11,58 metros. Suas turbinas a vapor permitiam que navegasse a uma velocidade de 11 nós.
Na volta ao Brasil, trazia uma carga de 10.000 toneladas de carvão destinadas à Central do Brasil, três tripulantes do navio tanque Itamaraty e um sobrevivente do Buarque, atacado em fevereiro. No dia 7 de marco de 1942, às 15:15 horário local (17:15 horário de Brasília), o navio foi atingido na proa por um torpedo lançado do U-155.
Abaixo segue o depoimento do 1º Oficial do Arabutã:
“O afundamento do nosso navio verificou-se com grande rapidez. Quando o primeiro torpedo atingiu o Arabutã este começou a afundar, embora demorasse alguns minutos. O torpedo atingiu a proa e o navio ergueu-se uns dois metros, mais ou menos, fora da água. Entretanto, pouco depois conseguia recuperar sua posição, mas começou a submergir. O Capitão nos deu ordem para ocupar os botes salva vidas. Quando começamos a nos afastar, metade do navio estava para dentro do mar. Daí a pouco surgiram aviões por cima de nós. Tivemos a esperança de que seríamos salvos em muito pouco tempo, mas os aviões voaram até as proximidades do navio que afundava e, após lançarem uma boia nas imediações, partiram rumo à costa. Os nossos quatro botes salva vidas mantiveram-se juntos durante todo o percurso que tivemos de fazer. Às 8 horas de domingo avistamos um navio, mas, evidentemente, seus tripulantes não nos perceberam. Continuamos a navegar ao sabor das ondas, sem que se registrasse nenhuma novidade até as 18 horas de domingo. Nessa ocasião fomos recolhidos.”

Manoel Florêncio Coimbra
No ataque faleceu o enfermeiro de bordo Manuel Florencio Coimbra, que dormia no momento do ataque. Ficaram seriamente feridos o 2º piloto Sebastião Rogério Andrade e o marinheiro Wilson Domingos Santos. Os sobreviventes foram resgatados pelo barco da Guarda Costeira dos Estados Unidos, USCG Calypso, e levados a Little Creek, no estado de Delaware.
Fontes:Uboat, wrecksite
Por Marcelo Cubis





